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Quando pensamos em trabalhar com orientação de pais ou transformar famílias em aliadas no setting clínico, logo percebemos que estamos entrando em uma relação que existe muito antes de nós – e muitas vezes antes mesmo da chegada da criança ou adolescente que atendemos. Esse é o ponto de partida do módulo “Pais ou Filhos: Quem é Quem?”, que traz reflexões fundamentais para quem busca uma atuação mais assertiva e ética no manejo com as famílias.

Por que estudar as relações entre pais e filhos?

Muitas vezes, a prática clínica nos conduz a buscar ferramentas rápidas para resolver o que consideramos “problemas” nas relações entre pais e filhos. No entanto, ao adotar uma postura meramente técnica ou orientada pela correção de comportamentos, corremos o risco de cair em um modelo medicalizante e objetificante.

É fundamental entender que cada família carrega uma história e uma dinâmica própria, tecida por gerações. Entrar nesse espaço exige cuidado e disposição para escutar, em vez de simplesmente analisar erros ou propor ajustes. Afinal, a clínica não é uma linha de produção; é um espaço de singularidade e subjetividade.

Parentalidade: entre a sociedade e o sujeito

A parentalidade é um fenômeno que envolve não apenas o ato de cuidar, mas também a transmissão de valores, significados e condições subjetivas que atravessam gerações. Aqui, vale destacar uma definição que amplifica nosso olhar:
“A parentalidade abrange a produção de discursos e as condições oferecidas pela geração anterior para que uma nova geração se constitua subjetivamente em uma determinada época.” (Teperman, Garrafa & Iaconelli, 2020)
Nesse contexto, o desafio para quem atua na clínica é escutar os pais não apenas como cuidadores, mas como sujeitos que também carregam desejos, frustrações e histórias próprias.

O lugar do filho no desejo dos pais

Quando uma criança nasce, ela é inevitavelmente recebida como um “ilustre desconhecido”. No entanto, ela também carrega o peso do “bebê ideal” — uma figura imaginária que representa a tentativa de reparar faltas, aliviar angústias ou realizar sonhos dos pais.

O luto pelo bebê ideal e a aceitação do bebê real são processos intensos, que podem trazer à tona angústias profundas. Aqui, nossa escuta deve estar atenta para acolher essa transição, ajudando os pais a navegarem entre as projeções e as frustrações que fazem parte do fenômeno parental.

A relação triangular na clínica infantojuvenil


A clínica infantojuvenil é, por natureza, mais complexa do que a clínica individual, pois envolve uma relação triangular entre paciente, família e terapeuta. Equilibrar essas relações exige sensibilidade, clareza de papéis e, acima de tudo, a habilidade de escutar as demandas de todos os envolvidos sem perder de vista o sofrimento do paciente como nosso norte principal.

Aqui, é importante reforçar:

  • Você não precisa salvar ninguém.
  • Você não precisa ensinar ninguém a ser mãe ou pai.


Seu papel é escutar e manejar as resistências e angústias que emergem no processo, criando um espaço seguro para que as famílias possam encontrar suas próprias respostas.

Medos e resistências dos pais: o que está em jogo?

Muitos psicólogos relatam dificuldades em lidar com as resistências das famílias, mas é crucial lembrar que essas resistências têm raízes profundas. Elas podem estar ligadas a sentimentos de culpa, fantasias de insuficiência, feridas narcísicas e até mesmo pressões culturais e religiosas que idealizam a função parental.
Como profissionais, precisamos evitar ocupar o lugar do “saber absoluto” que reforça essas fragilidades. Em vez disso, nosso papel é escutar essas resistências, entender suas origens e ajudar os pais a se reconectarem com suas capacidades e desejos.


Reflexão final: o convite à escuta

Trabalhar com famílias na clínica infantojuvenil é um desafio que exige disposição para olhar além das aparências e escutar o que está sendo dito – e o que não está. Essa escuta não é sobre corrigir ou ensinar, mas sobre criar um espaço onde pais e filhos possam se compreender mutuamente e, juntos, encontrar caminhos mais saudáveis para a convivência.


Se você deseja aprofundar sua prática clínica e se engajar verdadeiramente com as famílias que atende, o convite é simples: venha comigo nessa jornada de escuta, transformação e acolhimento.

Val Ribeiro

Psicóloga Clínica especialista em Psicanálise e Saúde Mental pela UERJ; Especialista em Atendimento Clínico Psicanalítico pela UFRGS; Mestre em Psicologia UFU. Val, como ela gosta de ser chamada, é vice-presidente do Instituto Janeiro Branco, e vem trilhando seu caminho acreditando na potência do ser humano e na criação de uma cultura da Saúde Mental nas sociedades como formas de revolucionar o mundo e as experiências de desenvolvimento humano.

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