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A psicologia clínica é uma jornada fascinante e desafiadora. Entrar na prática clínica exige mais do que a base teórica adquirida na graduação; demanda um olhar atento, uma escuta sensível e, sobretudo, um compromisso ético e técnico com quem confiou sua história a nós. Nesse contexto, a supervisão clínica se torna um pilar essencial para a formação e o desenvolvimento contínuo de psicólogas que desejam atuar com responsabilidade.

Ao longo de meus 20 anos de atuação como psicóloga clínica infantojuvenil, pude vivenciar o impacto transformador que a supervisão tem na prática profissional. Supervisão não é apenas um momento de aprender “como fazer”; é um espaço privilegiado de reflexão, onde o profissional pode pensar sobre suas intervenções, dificuldades e escolhas, sempre com o suporte de alguém mais experiente.

A supervisão clínica é, antes de tudo, um lugar de acolhimento. A clínica é um espaço de grande responsabilidade, e é natural que inseguranças e dúvidas apareçam, especialmente nos primeiros anos de atuação. Ter um supervisor para compartilhar essas experiências ajuda a reduzir a ansiedade e traz mais confiança ao trabalho. A supervisão nos lembra que não precisamos carregar o peso da prática clínica sozinhas; é uma rede de suporte, aprendizado e crescimento.

Pensa comigo: somos nosso instrumento de trabalho, e precisamos manter esse instrumento funcionando bem, certo?

Outro aspecto essencial da supervisão é a construção de um olhar crítico e ético. A prática clínica está repleta de nuances e desafios, que nem sempre são claros à primeira vista. A supervisão oferece um espaço seguro para explorar essas questões, permitindo que a psicóloga amplie sua capacidade de análise e desenvolva uma postura ética sólida, sempre focada no bem-estar do paciente.

Na minha trajetória, vejo a supervisão como um campo de troca e de construção conjunta. Durante a supervisão, o profissional não apenas aprende com o supervisor, mas também contribui para que ambos ampliem suas perspectivas. É um encontro de saberes que se enriquece a cada nova discussão, caso ou situação clínica.

Para psicólogas que atuam ou desejam atuar com crianças e adolescentes, a supervisão é ainda mais essencial. A clínica infantojuvenil exige uma escuta diferenciada e um olhar sensível não apenas para a criança, mas para a dinâmica familiar e social que a cerca. A supervisão ajuda a desenvolver habilidades específicas para lidar com as particularidades dessa prática, como o uso do brincar, a comunicação com os pais e a compreensão dos processos psíquicos em desenvolvimento.

Além disso, a supervisão contribui para que o profissional construa sua própria identidade clínica. Ela não ensina fórmulas prontas, mas nos ajuda a encontrar o nosso jeito único de atuar, sempre embasado por teorias sólidas e reflexões éticas. É um espaço onde podemos, aos poucos, nos sentir seguras para dar vida ao nosso estilo de trabalho, sem abrir mão da qualidade e da responsabilidade.

Se você é psicóloga clínica ou deseja ingressar nessa área, convido você a experimentar a supervisão como um recurso indispensável para sua formação e desenvolvimento. Afinal, cuidar da mente dos outros também exige que cuidemos da nossa – e a supervisão é uma das melhores formas de fazer isso.

Val Ribeiro

Psicóloga Clínica especialista em Psicanálise e Saúde Mental pela UERJ; Especialista em Atendimento Clínico Psicanalítico pela UFRGS; Mestre em Psicologia UFU. Val, como ela gosta de ser chamada, é vice-presidente do Instituto Janeiro Branco, e vem trilhando seu caminho acreditando na potência do ser humano e na criação de uma cultura da Saúde Mental nas sociedades como formas de revolucionar o mundo e as experiências de desenvolvimento humano.

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