Pular para o conteúdo principal

Trabalhar com crianças na clínica psicanalítica não é apenas uma escolha profissional, mas uma paixão que há 20 anos molda quem eu sou. A clínica infantil é um espaço onde a escuta, o afeto e a ética se entrelaçam para oferecer às crianças uma oportunidade de expressarem o que muitas vezes não conseguem colocar em palavras. É um território que exige paciência, criatividade, entrega do próprio corpo e, acima de tudo, respeito pela subjetividade de cada pequeno Ser que chega ao meu colo.

A infância é um período único, repleto de descobertas, mas também de desafios. As crianças não chegam ao consultório sozinhas; elas trazem consigo suas famílias, suas histórias e as marcas do mundo ao seu redor. Por isso, a clínica infantil não se restringe ao atendimento de uma criança, mas se expande para escutar a complexidade das relações que a envolvem. A interação com os pais, com os professores e, muitas vezes, com outros profissionais que acompanham a criança, é fundamental para que o trabalho terapêutico alcance profundidade e eficácia.

O brincar, na clínica infantil, é nossa principal ferramenta. Brincar é a linguagem das crianças, e é através dele que elas revelam seus medos, angústias, alegrias e fantasias. Quando uma criança brinca, ela nos convida a entrar em seu mundo, permitindo que compreendamos aquilo que muitas vezes está oculto ou reprimido. Para o psicoterapeuta, cada jogo, cada desenho, cada silêncio é um dado valioso, que nos ajuda a construir, junto com ela, novas formas de lidar com o que lhe causa sofrimento.

Um ponto que sempre ressalto é que a clínica infantil exige uma escuta que vai além do óbvio. Muitas vezes, as demandas que chegam ao consultório estão carregadas de expectativas externas: “meu filho não presta atenção na escola”, “minha filha é muito ansiosa”, “ele não obedece”. Cabe a nós, profissionais, olhar além desses rótulos e buscar compreender o que está por trás de cada comportamento, sempre com delicadeza e sem julgamentos.

A experiência de duas décadas na clínica também me mostrou que cada criança é única. Não existe um “manual” que funcione para todas. A escuta e a intervenção precisam ser personalizadas, respeitando o tempo, a história e o contexto de cada criança. É um trabalho que demanda muita humildade, pois nos convida a aprender algo novo a cada encontro, a cada sessão.

Como diretora do Instituto Janeiro Branco, levo para a clínica infantil a mesma paixão pela saúde mental e pela promoção de uma vida mais equilibrada. Acredito que cuidar das crianças é, também, cuidar do futuro. Quando ajudamos uma criança a elaborar suas dores e encontrar caminhos para o bem-estar, estamos contribuindo para a construção de adultos mais saudáveis emocionalmente, capazes de viver de forma mais plena e consciente.

A clínica infantil é um espaço de possibilidades. É onde as palavras não ditas encontram um lugar para existir, onde o sofrimento pode ser acolhido e transformado, e onde a criança, com todo o seu potencial, pode reencontrar a alegria de ser quem ela é.

Se você, como eu, acredita na importância desse trabalho, convido você a conhecer mais sobre o Instituto Janeiro Branco e os projetos que desenvolvemos para transformar a saúde mental em uma prioridade desde os primeiros anos de vida. Juntos, podemos construir um mundo onde cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo — para crianças, famílias e comunidades inteiras.

Val Ribeiro

Psicóloga Clínica especialista em Psicanálise e Saúde Mental pela UERJ; Especialista em Atendimento Clínico Psicanalítico pela UFRGS; Mestre em Psicologia UFU. Val, como ela gosta de ser chamada, é vice-presidente do Instituto Janeiro Branco, e vem trilhando seu caminho acreditando na potência do ser humano e na criação de uma cultura da Saúde Mental nas sociedades como formas de revolucionar o mundo e as experiências de desenvolvimento humano.

Deixe uma resposta